A presença das mulheres na Governança Pública é um tema que ganha cada vez mais relevância, mas ainda enfrenta desafios significativos para se tornar uma realidade efetiva. A agenda da diversidade, que rompeu o ambiente acadêmico e se expandiu para diferentes espaços sociais, está alinhada com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5) da ONU, que busca a igualdade de gênero, e com as diretrizes ESG (Environmental, Social, and Governance), que chamam a atenção para a necessidade de inclusão da diversidade em todos os níveis hierárquicos das organizações, sejam elas públicas ou privadas.

No Brasil, a representatividade das mulheres na Governança ainda é baixa, especialmente em cargos de liderança. Dados recentes mostram que, embora o número crescente, o ritmo é lento. Torna-se relevante criar uma onda positiva e estabelecer metas factíveis para aumentar a presença feminina nesses espaços.

A Rede de Governança Brasil (RGB) tem se destacado como um espaço de promoção da igualdade de gênero na Governança, por meio do Comitê Mulheres na Governança, a RGB busca fomentar a discussão e a implementação de práticas que incentivem a participação feminina.

Recente pesquisa revelou o perfil das mulheres que atuam na rede: a maioria está na fase de consolidação da carreira, com idades entre 39 e 46 anos, e enfrenta desafios como a dupla jornada de trabalho e cuidados com a família.

Apesar disso, essas mulheres dedicam tempo para atuar em comitês e grupos de trabalho, contribuindo para a governança pública e privada. A discriminação de gênero e o assédio moral ainda são barreiras significativas.

A pesquisa da RGB mostrou que 75% das voluntárias já sofreram discriminação de gênero, e 77% relataram ter enfrentado assédio moral em suas carreiras. Esses números alarmantes evidenciam a necessidade de criar ambientes psicologicamente seguros para que as mulheres possam evoluir profissionalmente e alcançar posições de liderança.

Promover a participação plena e efetiva das mulheres em todos os níveis de tomada de decisão é um desafio global.

O Brasil ocupa a 94ª posição no Índice de Desigualdade de Gênero (IDG), ficando atrás de países como Moçambique e Bolívia.

Apesar disso, estudos mostram que a liderança feminina está associada a melhores resultados em ESG, indicando que a presença das mulheres faz bem aos negócios e à sociedade. A luta por maior representatividade feminina na Governança não se limita ao setor privado. No âmbito público, as mulheres também enfrentam desafios como a dupla jornada, a discriminação de gênero e a falta de apoio para conciliar carreira e vida familiar.

A interseccionalidade de raça e classe agrava ainda mais essas barreiras, especialmente para mulheres negras, que enfrentam taxas mais altas de desemprego e menores salários. O lançamento do livro “Mulheres da Governança”, durante a cerimônia do Prêmio Rede Governança Brasil em dezembro de 2022, marca um passo importante nessa discussão. A obra, coordenada por especialistas em estudos de gênero e políticas públicas, analisa os desafios enfrentados por mulheres em posições de liderança e propõe estratégias para promover a equidade de gênero na Governança. O tema reforça a importância da inclusão feminina não apenas como uma questão de justiça social, mas como um imperativo para a eficácia e a legitimidade das instituições democráticas.

Em um momento em que os direitos das mulheres e suas vozes ganham destaque, é essencial continuar avançando na discussão sobre a representatividade feminina na Governança. A construção de um ambiente mais inclusivo e justo requer o comprometimento de todos os setores da sociedade, desde a implementação de políticas públicas até a mudança cultural que valorize e amplifique a contribuição das mulheres em posições de poder.

A luta por igualdade de gênero na Governança é, acima de tudo, uma luta por uma sociedade mais justa e equitativa, potencializando a colaboração feminina como agentes atuantes de transformação.

Eduardo Gil da Silva Carreira
Advogado OAB/RS 66.391
Membro Voluntário da Rede Governança Brasil
Pós-Graduando em Governança Pública – EBRADI

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