O mundo precisa alinhar suas políticas energéticas aos princípios da transição justa e promover a criação de valor local, com foco na inclusão de grupos marginalizados, recomenda um roteiro publicado nesta segunda (30/10) pela presidência da COP28.
Elaborado com a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) e a Aliança Global de Energias Renováveis (GRA), o documento traz uma série de recomendações políticas viáveis para governos e setor privado sobre como aumentar a capacidade global de energia renovável para pelo menos 11 terawatts (TW) até 2050.
O foco é mostrar que é possível triplicar a energia renovável em todo o mundo e dobrar a eficiência, medidas consideradas fundamentais para limitar o aquecimento do planeta a 1,5 ºC até 2100.
É um documento preparatório para a 28° Conferência do Clima das Nações Unidas, que este ano ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro.
Evento que, além de sediado em um país cuja economia é baseada em combustíveis fósseis, terá como pano de fundo um mundo em guerra, mais quente, e ainda com sequelas de uma pandemia.
IEA: Governos precisam separar clima de geopolítica
A meta está posta. Os negociadores deste ano tentarão chegar a um consenso sobre o papel das fontes renováveis no fornecimento de energia dos próximos anos e agora contam com mais um roteiro para subsidiar a transição.
Investir em infraestruturas e operação de sistemas, aprovar políticas de incentivo e regulamentação, construir cadeias de abastecimento resilientes, alavancar o financiamento climático e melhorar a colaboração internacional são as principais recomendações. .
Mas um ponto que precisa ganhar mais atenção nas discussões é o custo da transição para as pessoas.
Eólica e solar responderam por 80% da nova capacidade em 2022
Em diferentes partes do mundo, a corrida por instalações de energia solar e eólica repercute problemas mais antigos, como disputas pelo uso da terra.
Enquanto a demanda por minerais para fabricação de turbinas, painéis fotovoltaicos e baterias aquece a discussão sobre quão sustentável é a cadeia de suprimentos da transição.
Não que a indústria fóssil esteja livre desses problemas. A questão é que o mundo vai precisar de muito mais energia e consumirá cada vez mais novas tecnologias, o que aumenta a pressão sobre a forma como o mercado se desenvolve.
“Se não forem bem gerenciados, esses desalinhamentos representam riscos de resultados desiguais, o que poderia gerar dúvidas entre os formuladores de políticas e o público em relação às vantagens da transição e levar a um ambiente de política fragmentado e descoordenado”, alerta o relatório (.pdf em inglês).
Desequilíbrios na expansão eólica. No Brasil, estudo do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) em parceria com o Plano Nordeste Potência, divulgado com exclusividade pela epbr nesta segunda (30/10), identifica uma série de desequilíbrios em contratos de arrendamento de terras para projetos eólicos na região.
O mapeamento inédito de 50 contratos celebrados com pequenos proprietários rurais foi elaborado após denúncias sobre cláusulas que preveem baixas remunerações, períodos longos de vigência sob pena de multas elevadas e poucas contrapartidas sociais, entre outros.
Os autores do estudo reconhecem o papel das renováveis na transição energética e segurança climática, mas questionam a forma como essa expansão está ocorrendo, agravando problemas sociais entre populações muitas vezes já em situações de vulnerabilidade.
As empresas, por sua vez, afirmam seguir a prática jurídica recomendada e que os prazos atendem às necessidades dos projetos de energia. Leia a reportagem na epbr
Comunidades resistem ao boom do lítio. Na América Latina, Chile, Argentina e Bolívia são responsáveis por 68% das reservas globais de lítio, geralmente encontradas na forma de salmouras – depósitos com a maior concentração do metal, encontrados no chamado Triângulo do Lítio, na região andina dessas três nações.
E com reservas relativamente pequenas e inexploradas, o Peru é recém-chegado a este setor que tanto desperta interesse dos fabricantes de veículos elétricos.
Mas o uso intensivo de água preocupa populações locais, que dependem dela para agricultura e criação de animais, suas principais atividades econômicas, relata o Diálogo Chino.
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