Valor Econômico – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera atingir, em 2024, novo recorde de financiamento para infraestrutura. Os primeiros meses do ano apontam alta nas aprovações do setor, tendência que deve se manter no ano.

“Vamos trabalhar para que o crescimento seja entre 20% e 30%. E podemos aumentar as aprovações em caso de crise no meio do caminho”, disse ao Valor a diretora de infraestrutura, transição energética e mudanças climáticas do BNDES, Luciana Costa.

Na visão de especialistas, o crescimento do banco no segmento de infraestrutura é positivo desde que sejam priorizados projetos com mais dificuldade de financiamento privado. O receio é que se repitam erros do passado, quando o banco foi turbinado pelo Tesouro Nacional e deslocou o crédito privado.

Em 2023, a diretoria de transição energética e mudança climática, comandada por Costa, aprovou e desembolsou os maiores valores para projetos de transportes, logística, mobilidade e saneamento dos últimos cinco anos. As aprovações do setor cresceram 23% em 2023, frente a 2022, atingindo R$ 78,5 bilhões no ano. Já os desembolsos ficaram em R$ 48 bilhões, alta de 14% sobre o ano anterior.

A gestão de Aloizio Mercadante assumiu o banco com a meta de elevar os desembolsos a 2% do PIB até 2026, fim do governo Lula. Especialistas reiteram que as operações não devem ser analisadas pelo volume de empréstimos, mas pela capacidade de se cobrir falhas em segmentos com dificuldades para acessar o mercado de capitais.

Costa atribui o resultado das operações em 2023 à estabilização do cenário macroeconômico, com a aprovação do novo arcabouço fiscal e a redução das taxas de juros, além do amadurecimento dos marcos regulatórios no país. “O Brasil aprendeu com os erros de algumas concessões que foram feitas no passado. Tudo isso melhora a visão do investidor de longo prazo”, afirma.

As cifras superaram as expectativas porque, segundo a diretora, grandes projetos foram aprovados no fim do ano, principalmente ligados à transição energética. “Só em transição, a gente esperava aprovar R$ 12 bilhões, mas fechamos com R$ 20 bilhões”, explica.

Quando se olha para o BNDES como um todo, houve um crescimento de 44% nas aprovações em 2023, que totalizaram R$ 218,5 bilhões. Os desembolsos, por sua vez, atingiram R$ 114,3 bilhões, alta de 17% sobre 2022.

Fontes que acompanham o banco destacam que o ritmo da atividade de crédito foi dinamizado com a nova agenda do governo, mas reconhecem que projetos financiados pelo BNDES têm características de longo prazo e são “herdados” de uma gestão de governo para outra.

Desde 2018, o BNDES opera com a Taxa de Longo Prazo (TLP), que hoje tem custo de mercado. A TLP substituiu a antiga Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que embutia subsídios. Hoje cerca de 82% das operações do banco são feitas a taxas de mercado. Segundo Costa, menos de 2% do funding subsidiado é destinado para projetos em infraestrutura, a maioria vai para o agronegócio via Plano Safra.

Para Sérgio Lazzarini, professor da Ivey Business School, da Western University, e do Insper, o BNDES precisa priorizar projetos com mais dificuldade de financiamento privado e com altos potenciais de ganho. “Seria interessante que o BNDES examinasse não apenas o quanto os seus desembolsos vão para projetos de infraestrutura, mas também se esses projetos poderiam ser financiados de outra forma, com debêntures emitidas pelo próprio setor privado, por exemplo”, pondera.

Em 2023, o BNDES entrou com força no mercado de debêntures. Foram emitidos R$ 16,5 bilhões, o que representou 25% do mercado de capitais no ano passado. O movimento causou reação entre atores do setor privado, que apontam para um aumento da competição com fundos de investimentos e pessoas físicas.

“As debêntures seriam uma forma de o próprio BNDES se financiar. Mas a pergunta é: financiar-se para quê? Se for para emitir debêntures e depois financiar grandes empresas que podem, elas próprias, captar recursos via debêntures ou qualquer outro instrumento, então a estratégia será menos justificável”, diz Lazzarini.

Mas não há indicativos de recuo. Pelo contrário: as emissões devem superar os valores de 2024, com participação em projetos de empresas que atuam em setores como o de rodovias e saneamento.

Outra atividade que o banco tem olhado com atenção é o hidrogênio verde. O BNDES ainda não conta com nenhum projeto na carteira, mas afirma que dois estão em vias de entrar para consultas. “Esses investimentos são de médio prazo, talvez para 2026 ou 2027”, ressalta a diretora.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/03/18/bndes-projeta-recorde-e-preve-crescer-30-neste-ano-em-infraestrutura.ghtml

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