Fundador da Sysfer, Jorge Fernando do Monte Pinto fala sobre a trajetória da empresa, que completa 30 anos de atuação no mercado ferroviário este ano.

– Qual foi a principal motivação para a criação da empresa em 1994?
Jorge Fernando – Todos os fundadores da Sysfer tinham, à época, mais de 15 anos de experiências vividas na RFFSA. Hoje temos 45 anos no setor ferroviário, incluindo o tempo de Sysfer. Em 1993, a RFFSA foi incluída no Plano Nacional de Desestatização (PND), após tentativas frustradas de equacionamento da dívida que sufocava a prestação dos serviços de transporte ferroviário. Naquela ocasião, foram iniciados os movimentos de preparação para a desestatização, incluindo o Programa de Incentivo a Demissão (PID). Em 1994, já com as definições do modelo de desestatização estabelecidas pelo BNDES e acompanhado de três colegas, aderimos ao PID e criamos a Sysfer, visando a preparação para o atendimento aos futuros concessionários. Ou seja, a motivação para a criação da Sysfer foi a perspectiva de continuar aproveitando a experiência adquirida nos anos de RFFSA, atuando no novo mercado ferroviário, que certamente prosperaria. Parece que deu certo, pois chegamos até aqui, 30 anos depois, vivos, apesar da trajetória de altos e baixos do setor durante este período.



– Nestes 30 anos de existência, é natural que a empresa tenha se reinventado em função da movimentação do próprio mercado. Poderia nos falar um pouco sobre isso?
JF – Sim. Com certeza tivemos vários ciclos de mudança de perfil nestes 30 anos para ficarmos aderentes às necessidades do setor. O primeiro ciclo focou no atendimento aos novos concessionários na área de TI. Cabe ressaltar que os sócios tinham como origem a operação ferroviária e o desenvolvimento de sistemas para CCO e gestão de frotas. Nos contratos de concessão, os novos concessionários foram obrigados a manter os sistemas da RFFSA, durante três anos. O objetivo do BNDES com esta exigência era assegurar a continuidade do tráfego de trens e o controle dos vagões e locomotivas durante a transição. Após este período, cada uma das novas concessionárias poderia atualizar ou utilizar novos sistemas. Foi por conta da manutenção do legado da RFFSA que a Sysfer teve seus primeiros contratos, introduzindo aprimoramentos e adequações para as novas exigências tecnológicas e funcionais. O segundo ciclo, iniciado em 2000, foi com a criação de uma nova unidade de negócios na área de Gestão Patrimonial.

– Por que essa área foi criada?
JF – A principal motivação para criação desta unidade estava nos próprios contratos de concessão, que tornaram obrigatórios os inventários anuais dos bens arrendados. Ou seja, uma exigência contratual transformou-se em importante nicho de mercado, para o qual a Sysfer se preparou, incorporando na sua equipe profissionais oriundos da área de Patrimônio da RFFSA, com profundo conhecimento dos bens arrendados. Cabe ressaltar que, atualmente, os negócios relacionados à Gestão de Ativos representam em torno de 60% do nosso faturamento. O terceiro ciclo veio com 16 anos de existência, quando percebemos que o momento era de crescimento do interesse de novos players no setor, além de novos planos dos governos federal e estaduais na expansão das ferrovias, como a ferrovia Rio-Vitória, Nova Transnordestina e novos terminais que, em geral, conectam os operadores ferroviários com seus clientes. Criamos, então, uma nova unidade focada em Projetos de Engenharia e Estudos de Viabilidade. Além disso, durante este último ciclo, iniciamos um processo de renovação da equipe, contratando profissionais recém-formados com sede de aprendizado e novas ideias, que foram treinados por profissionais sêniores. Esta estratégia deu muito certo, uma vez que 80% dos contratados continuam trabalhando na Sysfer até hoje.

– Na sua opinião, qual é o diferencial da Sysfer?
JF – Não gosto de dizer que é um diferencial, mas sim uma característica própria, ou seja, como participamos dos estudos da desestatização juntamente com o BNDES, temos profundo conhecimento das exigências contratuais, além de acompanhar passo a passo as transformações que ocorrem ao longo do tempo. Adicionalmente, como somos oriundos de uma empresa estatal, ou seja, já estivemos do outro lado do balcão, entendemos com alguma facilidade as demandas do poder concedente, conseguindo antever novas oportunidades. Tem sido assim com a criação de metodologias para controle patrimonial, para cálculo de indenização de trechos antieconômicos e sua reutilização, entre outras. Atualmente, a Sysfer tem importante participação no mercado voltado para o atendimento destas obrigações contratuais das concessões.

– Como está a empresa atualmente?
JF – De alguma forma estamos colhendo os frutos plantados durante este período. A Sysfer de hoje é uma empresa certificada ISO 9001, fator fundamental para a organização e controle dos principais processos internos. Temos uma parceria bem consolidada com uma das mais importantes ferrovias do mundo, que é a DB da Alemanha, prestamos consultoria para todas as concessionárias e para o governo em vários temas, desenvolvemos projetos no exterior, recebemos vários prêmios de melhor empresa do setor. Com a nova Lei das Ferrovias, que criou o instituto da autorização, resolvemos investir em um estudo que proporcionasse uma visão mais realista no que se refere ao mapa de autorizações, visando identificar aquelas que tivessem mais viabilidade. O resultado indicou a autorização da Ferrovia do Maranhão, projeto da GPM, que liga a Norte- -Sul ao novo porto de Alcântara.

– Qual a participação da Syfer nesse projeto?
JF – Em parceria com a DB e o grupo português GPM, responsável pela autorização, firmamos um acordo de participação no empreendimento que vai além da prestação de serviços de consultoria, visando a operação da ferrovia e participação no resultado do empreendimento. Entendemos que este seja o projeto que se encaixa muito bem em nosso perfil, cuja implantação irá transformar positivamente a logística do transporte ferroviário no Arco Norte. Com a efetivação deste projeto, estaremos fechando com chave de ouro nossos trinta anos. Gostaria de ressaltar também a nossa equipe e as novas tecnologias que estamos utilizando. Temos hoje 65 profissionais trabalhando na Sysfer, com uma mescla interessante de jovens na faixa de 30 anos e sêniores, que faz com que tenhamos uma continuidade consistente. Os investimentos em treinamento de novas tecnologias, além de outros, como cursos de inglês para toda equipe do escritório, são recorrentes. Organizamos reuniões mensais de alinhamento, em que reservamos uma parte do tempo para falar de temas de interesse, como detalhamento das políticas atuais de governo, logística nacional, história das ferrovias, como elas funcionam pelo mundo e seus vários modelos de exploração e operação, dentre outros. Esta iniciativa tem motivado principalmente os mais jovens.

– Gostaria de finalizar com alguma mensagem?
JF – Obviamente, não poderia deixar de agradecer a confiança de nossos clientes. Isto é sempre importante para qualquer empresa, principalmente no nosso caso, pois no início sofremos o preconceito de ser uma empresa formada por ex-funcionários da RFFSA, cuja imagem na época não era bem considerada pelo setor privado. Esta confiança foi fundamental para termos chegado até aqui. Muito obrigado a todos que participaram desta trajetória e vamos para mais 30 anos!

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